A revolução do teletrabalho na gestão e produtividade. Adaptar ou morrer.

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Desde há 9 anos estou em teletrabalho, ou em ambiente remoto. Mas não foi sempre assim. Tenho 45 anos. Fui ainda educado numa lógica de 9h00 às 18h00, tinha horários desde criança para tudo. Aulas e depois trabalho.

O conceito de horas num sentido mais estrito vem do período da Revolução Industrial, pela necessidade dos turnos nas recém criadas fábricas, já existiam relógios antes, mas não era tão relevante saber o tempo preciso. O conceito de fusos horários ganhou relevância após as viagens de comboio. A medição do tempo passou a ser A métrica de produtividade. (Link)

Estar num local 8h ou 9h e executar tarefas. Uma herança da indústria, que os serviços adotaram (e adotam) durante largas dezenas de anos.

No início do milénio, o email massificou-se e passou a estar nos nossos bolsos. Ainda me lembro de publicidades que enalteciam as maravilhas de já não ter que ir ao escritório fora de horas para enviar um email com uma proposta…

As inovações tecnológicas “pós-iPhone” colocaram-nos um computador no bolso, mas continuamos a ter que ir ao local de trabalho cumprir o contrato.

O “open-space” e a “reunite” passaram a ocupar uma significativa parte do tempo, e o email/Messenger passou a ser uma ferramenta de distribuição de tarefas. É a vida não é?

Enquanto os nossos PCs passavam de 100Mb de disco e 16MB de RAM para terabytes de informação e Gigas de RAM, o nosso cérebro evoluía à mesma velocidade de sempre, nem sequer uma geração de sempre.

Passamos a ser trabalhadores do conhecimento, um nome pomposo na área dos serviços, para despachadores de tarefas.

Ter tempo livre é um luxo, ter notificações desligadas é ser-se um pária social.

E então surge o COVID-19… e o teletrabalho.

Em dias, mudamos o nosso espaço, o nosso tempo, as nossas tarefas, como líderes e colaboradores.

Os telemóveis passam a estar em cima da mesa, e os PCs voltam a ganhar relevância. (Alguém anda a comprar telemóveis novos no último ano?)

Alguns de nós suspiram de saudades do escritório, porque a casa não tem condições, ou o papel professor/progenitor em espaços impreparados.

Outros, como eu, que já trabalhava desde há 5 anos remotamente e com colaboradores a 250kms de distância, assistem a adaptações de outras empresas que ainda consideram que é transitório, negativo, e desmotivador este modelo.

Será mesmo desmotivador o teletrabalho? Ou pelo contrário trazer vantagens competitivas?

Como sempre a minha opinião é enviesada, como todas, mas gostava de abordar vários pontos onde quem não se adaptar, pode definhar e morrer.

Criar processos e objetivos para colaboração remota… e dar espaço

Muitas vezes nos escritórios, passavam-nos tarefas, seguidas de reuniões, seguidas de “urgências”. Quem souber livrar-se do imediato, pode encontrar num ambiente remoto, um espaço de reflexão e concentrar-se no que é verdadeiramente importante numa empresa. O ruído dos “open-spaces” e a pseudo-colaboração criada foi pensada numa altura onde não recebíamos centenas de estímulos auditivos e visuais por dia.

O cérebro precisa de tempo, de silencio para pensar, e encontrar soluções. Precisa de se aborrecer.

E as chefias têm uma oportunidade de criar novas formas de colaboração, menos intrusivas, mais focadas. E isso poupa recursos, tempo, e pode aumentar brutalmente a produtividade.

 O valor de alguém deixa de estar associado ao local físico

Assistimos nos últimos anos, a um aquecimento dos valores de imóveis das grandes cidades, tornando o custo de vida muito elevado. Há serviços que deixa de ser relevante. Já sabemos que os nossos colaboradores podem ser de Beja, Vila Real ou de outro local, permitindo aumentar o leque de opções, a custos para a empresa muito menores e (se calhar) com pessoas mais motivadas (espaço, inexistência de deslocações, custo de vida).

A sociedade fala dos custos da interioridade, mas podem deixar de fazer sentido. Haja abertura das empresas para contratar à distância. (Nota: desde há 5 anos que a nossa empresa tem colaboradores a 250 kms de distância em permanência, Porto e Castelo Branco)

E não vamos perder o espírito de equipa?

Vamos. Mas então já não o tínhamos. Eu sei, é uma opinião dura, não factual, mas vejamos.

Porque é que haveríamos de perder o espírito de equipa? Já não tomamos café juntos, já não falamos de futebol, já não conseguimos reunir? Não conseguimos alinhar objetivos e tarefas? O ser humano precisa do toque, do estar fisicamente? Precisa.

Precisa de o fazer com amigos, com a família. Tenho sérias dúvidas se queremos estar presentes com todos os nossos colegas. Tenho dúvidas que queiramos ter o chefe literalmente ao nosso lado. Para mim é um mito, mas respeito profundamente outras leituras, até porque temos perspetivas diferentes aos 20, 30, 40, sendo solteiros, casados, amantes da noite ou caseiros.

E isso conta. Deixa de haver um perfil de pessoa, quem souber recrutar, entender as motivações de cada um, vai ter equipas motivadas, mesmo à distância.

A disrupção cria vantagens ou desvantagens competitivas profundas em teletrabalho – vamos ignorar isto e trabalhar como antes. Qual o problema?

Nenhum a curto prazo. Enquanto isso, aqueles que se adaptarem vão ter menos custos, melhores objetivos, equipas mais motivadas, clientes que valorizam a qualidade de entrega, a fluidez de processos.

Dou um exemplo. Um colaborador que demore 45 minutos a chegar e outros 45 minutos para voltar do trabalho tem: 1h30 de tempo gasto por dia (e custos inerentes, tempo que não está com os seus), 34 horas num mês (23 dias) ou seja num mês perde uma semana de horas úteis, que podiam ser investidas noutras atividades.

A liberdade para pensar é um ativo cada vez mais raro – e um bom modelo em teletrabalho permite essa liberdade.

Com os devidos ajustes, conseguimos pensar melhor no meio de dezenas de pessoas, depois de termos demorado 45 minutos no trânsito, com 3 reuniões só da parte da manhã, ou no aconchego de um local remoto? (não necessariamente a casa)

Não somos nós muitas vezes que nos salivamos com imagens edílicas de nómadas digitais?(também não é como pintam mas…)

Empresas, líderes, colaboradores, se queremos ter melhor qualidade de vida, e ser mais produtivos, precisamos de tempo. Tempo de pausa, sim, a meio do dia. O horário 9h/18h (ou pior) é uma convenção obsoleta.

Mas não estamos a abusar hoje em dia do trabalho em casa, e há quem diga que trabalha mais do que no escritório?

Há e por dois motivos: um bom, porque somos mais produtivos, outro mau, porque perdemos noção do tempo. Mas isto ajusta-se.

As melhores empresas são aquelas que criam espaço, objetivos para os colaboradores crescerem.

As melhores empresas irão ser aquelas que compreenderem, tal como queremos compreender o perfil do consumidor, o perfil do colaborador e como podemos nos adequar ao perfil que nos traz mais rentabilidade ao mesmo tempo que tem níveis elevados de satisfação.

Acabo por aqui, pois o artigo já vai muito longo.

O teletrabalho ou ambiente de colaboração remota por força do que se passou é uma oportunidade de mudarmos a mentalidade e filosofia das empresas.

Até (muito) breve

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