Todos queremos tratamento de hotel em casa e o tratamento mais caseiro possível num hotel.
Nas empresas, também o empregador espera que o colaborador “vista a camisola” e pense sempre na empresa. Este quer ter mais reconhecimento, motivação e sempre que possível compensação monetária. Para garantir esta relação a la casamento, celebra-se assim um contrato, em que, normalmente o colaborador jura fidelidade pelo menos 8 horas por dia em troca do dinheiro para (sobre)viver.
Será este o modelo ideal no séc. XXI? Penso que não. E passo a demonstrar o meu ponto de vista:
– Produtividade conjunta – ponha a mão no ar quem acredita que conseguimos ser produtivos 8 horas por dia, 5 dias por semana, 23 dias por mês, 11 meses por ano (pelo menos).
E do ponto de vista da empresa? Não quer ter as tarefas feitas no mais curto espaço de tempo e com a melhor eficiência? Ok.
Qual a alternativa? Trabalho dirigido ao resultado em x tempo, que permite aproveitar o melhor de cada um no seu tempo mais otimizado de produtividade. Há quem esteja no seu auge às 8:30, só que uns são da manhã e outros da noite.
– Otimização conjunta dos recursos – Suponhamos que o leitor tem a empresa XPTO que tem 50 colaboradores, entre Marketing, Produção, Financeira, RH, Logistica… Para tal aluga ou constrói um espaço para pelo menos 50 pessoas, refeitório, casas de banho, gabinetes, salas de reuniões… Paga alguns milhares de euros de eletricidade, água, e afins. Ao fim de algum tempo pergunta-se: é mesmo necessário estarem cá todos? Não estou a falar de despedimentos, mas de teletrabalho ou outsourcing de tarefas. O futuro do teletrabalho é o futuro do trabalho em si.
Menos custos fixos de FSE, de colaboradores, menos hardware, menos áreas de apoio.
E para o colaborador? Menos gasolina e desgaste, ou passe, refeições mais baratas em casa, mais tempo poupado em deslocações, menos interrupções e pausas na máquina da água.
Mas isto não faz com que vistam todos menos a camisola? Se o leitor tivesse mais liberdade, estaria mais ou menos ligado à sua empresa? Existirão pessoas que abusarão? Certamente mas o mercado depressa ajustará porque num mundo de constante informação, a má reputação é o pior inimigo de alguém.
- Aprendizagem constante – …quem trabalha não tem tempo para ficar rico. Pois bem, nem para aprender. E isso é importante? Vejamos: o leitor aprendeu as matérias na escola, provavelmente escolheu uma área e especializou-se. E o que está a fazer agora? É o que sonhava fazer? E vê-se a fazer exatamente a mesma coisa em 3 anos. E 10 anos. E daqui a 20 anos? Pois… então temos todos que estar constatemente a aprender algo. E conseguiremos estando num espaço fechado das 9:00 às 18:00? (silêncio)
- A emoção e novas experiências – se os consumidores escolhem emotivamente as marcas, baseando a sua decisão em pseudo-critérios racionais, porque é que há-de ser diferente na sua carreira? Sim, seremos mais aversos ao risco, mas será que mesmo se pudermos (e não vamos poder), ficaremos 30 anos na mesma função e no mesmo sitio?
- Hoje em dia a rotina é causadora de stress, (apesar de todos sonharmos em fazer pouco numa praia ou no campo, o que é um pouco contraditório). Já não repetimos os lugares de férias, gostamos de variar de restaurante, mesmo o conceito de habitação não é o mesmo.
- …e porque tecnologicamente já podemos trabalhar em qualquer lado – com as atuais ligações de internet móvel, os computadores, os tablets, as videochamadas, as partilhas de documentos e aplicações baseadas na cloud, pouco ou nada impede de começarmos a ver o mundo como o nosso escritório.
Só falta mesmo mudar as mentalidades dos empregadores e dos colaboradores.
Há riscos? Sim. Seremos mais dependentes da tecnologia? Talvez. Depende de…nós. Mas vamos outra vez supor:
- Quanto tempo e dinheiro pouparemos em deslocações? Cereja no topo do bolo: menos poluição
- Quantas interrupções desnecessárias evitaremos?
- Que novas tarefas poderemos fazer e que aprenderemos com o tempo extra?
- Que doenças deixaremos de ter por não estar em espaços partilhados?
- Que greves e tempestades serão irrelevantes porque não teremos de sair das imediações de casa?
Vamos conciliar vários interesses, se calhar trabalhar em vários projetos. Não será estimulante?
Vamos deixar de fingir que estamos a fazer algo das 9:00 às18:00 nos dias quentes de Agosto em que não está ninguém para adiantar trabalho.
Vamos ter mais precariedade? Sim, mas não necessariamente menos rendimento disponível.
Suponhamos outra vez:
- O leitor aufere 1.200€ liquidos de impostos (é válido com qualquer outro valor).
- Gasta aproximadamente 120€ em transportes (mora a 15kms do trabalho), mas tem que fazer compras no hipermercado, ir buscar o(s) filho(s) e fazer alguns percursos adicionais
- Almoça por 7€ por dia gastando 161€. Juntamos os cafés e lanches e chegamos aos 200€ mês
- Perde 1 hora e meia por dia em transportes com o desgaste não diretamente quantificável que isso lhe causa. Tem que se levantar às 7 ou antes…
- E quando tem que fazer 300kms para ir a uma reunião? Que tal seria fazer a dita por videoconferência?
- Das 8 horas que está no trabalho, mais de 2 horas são de interrupções desnecessárias. Não acredita? Intervalos para café e cigarro, conversas com colegas, pedidos de ajuda, chamadas, messengers, mails internos para justificar sabe-se lá o quê, e reuniões desnecessárias. São 10 horas por semana, 40 horas por mês, 440 horas por ano, ou 20 dias!
Ou seja, fica com 880€ e menos 3 horas e meia por dia devido a gastos de tempo.
Agora não ganha 1200€ mas sim 1000€, fica então com 680€ e as mesmas 3 horas e meia a menos.
Para as empresa os ganhos financeiros são muito significativos. Instalações mais pequenas, menores consumos… mas então e a camisola? E quem não é visto não é lembrado?
As empresas procuram resultados. As pessoas procuram significado. E não é estando parado num sítio que garante isso.
O que garante são objetivos bem definidos e ferramentas para os alcançar, é a medição de performance, é a motivação e a produtividade. E esta é fruto de um conjunto de fatores, onde o tempo perdido não é um deles. O que a empresa poupa em custos intermédios, pode investir em outros recursos.
Com isto não defendo a total ausência, de vez em quando faz bem respirar o ar da empresa. Mas não poder respirar outro ar faz mal.
E não abordei os ganhos para as economias locais, comércio, espaços de lazer, nem os ganhos de saúde, a partilha, e o convívio familiar.
Acredito que este seja o futuro dos nosso filhos. Não vão ter profissão mas sim um conjunto de projetos. E acredito que possa ser melhor do que temos hoje, ainda que com mais incerteza. A tecnologia em mobilidade ao nosso serviço de forma profissional.
(artigo original do autor no blog mmarketing.pt)