Porque é que Portugal ainda está longe de ter a “Semana Finlandesa”? Primeiro vamos chegar às 40 horas, depois às 24.

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Nas últimas horas, uma cara simpática invandiu os feeds das Redes Sociais e Internet, com uma semana de 4 dias, vinda da Finlândia, a “Semana Finlandesa”.

Surgiram suspiros, votos de que cá se fizesse o mesmo, ou que era ótimo que acontecesse, entre milhares de comentários e partilhas.

Na quadra natalícia, outra cara, menos habituado a simpatias, dizia que a qualidade da nossa gestão empresarial era medíocre, citado depois fora do contexto e desta vez repudiado por outros (ou os mesmos) internautas com milhares de comentários e partilhas.

Porque é que relacionei estas duas informações?

Pelo facto de considerar que em Portugal ainda não temos sequer as 40 horas no local de trabalho, quando mais quatro dias, por nossa responsabilidade, individual e também pela Gestão.

São excepções à regra os responsáveis da empresa que encaram a produtividade como algo que se produz com determinados recursos e que não olha para as longas horas de trabalho como um ativo que extrai dos colaboradores.

Passo a expor assim as diferenças que considero por agora grandes para traçarmos paralelismos com a desejada “Semana Finlandesa”:

 A cultura empresarial na Finlândia já fomenta o cumprimento de horários de saída

Quem tem conhecidos a trabalhar nos países nórdicos sabe que, seja pelo dia de sol ser mais curto, seja pela forma de trabalhar, a partir das x horas (15h, 16h), ninguém fica nos escritórios e algumas empresas desanconselham a consulta de email a partir desse momento (ou barram). Em Portugal muitas empresas e instituições elogiam o “presentismo” quase menosprezando a hora de chegada mas vendo a hora de saída tardia como “vestir a camisola”.

Consistência ao longo do dia

Também relacionado, vamos refletir sobre a incidência de tarefas desde o início do nosso dia ao final do mesmo? Que vos parece? Pois, que de manhã, gere-se o tempo e à tarde o mesmo atropela-nos. Reuniões depois das 17h, emails “urgentes” para tratar para a manhã do dia seguinte, entre outros berbicachos que tornam os finais de dia, um inferno e nos fazem levar para casa, os pensamentos dos “pendentes” que ficaram.

Desconheço se na Finlândia são mais consistentes mas desconfio que sim.

Não porque sejam melhores que nós mas também porque é cultural.

Sim, somos mais porreiros e próximos e eles são distantes e frios mas por vezes, serve este distanciamento como forma de não abusarmos da boa vontade dos outros.

Dizer não é um direito, não uma falta de educação.

Em Portugal raramente dizemos não ou não sei, os nossos pais ensinaram-nos que pode ser falta de educação. Não gostamos de passar por ignorantes ou antipáticos. E então vamos dizendo sim em voz baixa até o limite de trabalho/tarefas/atividades nos cilindrar e aí disparatamos, não temos tempo para nada… é latino.

Os nórdicos (e outros povos) olham para nós e dizem: não. Sem pontos de exclamação e muitas vezes sem justificações ou desculpas (isto de nos desculparmos por dizermos não a algo que nos pedem se pensarmos bem é ilógico). O assunto morre aí, e libertamos o tempo e a mente.

A pontualidade não devia ser um “skill” ou uma qualidade, nem devia ser tema.

Para almejarmos aos 4 dias, precisamos de olhar para a pontualidade com o respeito que nos merece, respeito pelos outros. Sem sermos pontuais dificilmente conseguimos gerir o tempo de forma eficiente e fazer em 4 dias o que não fazemos agora em 5 dias. 30 minutos, 60 minutos ou mais, entre parceiros e muita das vezes entre chefias e equipas, é um tiro no pé nos processos de uma empresa. Experimentemos chegar atrasados num país como a Alemanha ou Finlândia.

Mas e com a Transformação Digital, vai ser mais fácil ter a Semana Finlandesa?

Quando a tivermos sim, mas as empresas que desmaterializam processos com qualidade são poucas para a percentagem de empresas em Portugal. Desculpem esta frase polémica mas ainda mal começamos. Vejamos como os CRMs são tratados em muitas empresas com o revirar dos olhos dos Comerciais, como os processos de pós-venda e reclamação são demorados na resolução de pequenas situações, baseados em formulários e emails de x ou y e melhor, como é mais fácil encomendar algo de fora e chegar cá a horas, do que no nosso próprio país.

Nós somos bons, não nos iludamos, e conseguimos ser muito bons em culturas exigentes.

Mas aqui em Portugal ainda temos um longo caminho: ainda temos o vício da “reunite”, da “mailite”, da “reunião de status”, do “kick off”, e de agendas que poucos lêem para preparar uma reunião.

Conferir faturas ainda está manualizado em muitas empresas, e trabalhar bases de dados e automatizar envios de cartas ou emails ainda é um bicho careto.

Quando conseguirmos ter 40 horas no local de trabalho (e não 45 no local de trabalho mais 20 fora dele), quando olharmos para os nossos filhos que ficam 9/10horas por dia na escola e que adormecem nos carros no caminho de casa, quando trocarmos as deslocações desnecessárias por reuniões à distância, aí poderemos pensar na Semana Finlandesa.

Na Finlândia como em outros países, estão a aperceber-se também que a automação de tarefas vai contrair os empregos, e também desta forma poderão nivelar a oferta e procura de trabalho com esta possível política.

Não quero com esta mensagem corroborar com alguém que fazendo parte de um dos orgãos com… mais margem de melhoria na produtividade, mas sonharmos com 4 dias com tanto caminho para trilhar, é demagogia.

Uma boa semana de trabalho de, esperemos, 40 horas.[/fusion_text][/fusion_builder_column][/fusion_builder_row][/fusion_builder_container]

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